Série Para-ninguém-e-nada-estar
Leila Danziger
Impressão jato de tinta sobre papel celulose,
57 x 40. Série de 8 imagens. [2016]
DE PÉ, na sombra
da cicatriz no ar.
De-pé-por-ninguém-e-nada.
Incógnito,
por você
só.
Com tudo o que nela cabe,
mesmo sem
fala.
Paul Celan (Stehen)
Tradução: Carlos Abbenseth
Ao longo do mês de março, li os jornais procurando imagens que mostram estados de sub-cidadania. A série procura evidenciar a página do jornal como ruína, resíduo, descarte – a ruína da informação. Meu objetivo é criar “o jornal do jornal”, uma publicação que reúna essas imagens tão recentes e imediatamente esquecidas. Cada página fotografada é inserida em uma nova configuração gráfica, em que consta o verso de Paul Celan (que dá título à série) e a data em que o jornal foi publicado. O verso de Celan é deslocado de seu contexto de testemunho de Auschwitz e informa nossas pequenas e grandes catástrofes de cada dia, a solidão extrema, o abandono, a "vida nua", como bem definiu Giorgio Agamben.
De-pé-para-ninguém-e-nada
Leila Danziger
Adesivo e tinta spray sobre banca de jornal. Dimensões variáveis. [2016]
Há cerca de quatro décadas esta banca de jornal ocupa a esquina da rua Flávia Farnese com Proclamação, endereço que no Google maps aparece integrado a Bonsucesso, mas que de fato pertence às experiências de afeto e sociabilidade da Maré. O transporte da banca para o centro do Rio parte do desejo de deslocar um pedaço daquela esquina, que cruzei quase diariamente ao longo do mês de março, ao caminhar da favela da Baixa do Sapateiro à Nova Holanda, onde fica o galpão Bela Maré. Evocar esta cartografia em um espaço de arte no centro do Rio talvez expanda, minimamente que o seja, a cartografia da cidade. Sabemos bem que “há um perverso senso comum que reduz as favelas à condição de territórios precários, ilegais, inacabados, desordenados e inseguros: o avesso da cidade. Assim as favelas não poderiam figurar na cartografia da cidade. Estavam banidas das representações urbanas oficiais. O avesso não deveria aparecer.” (Guia de ruas da Maré, 2014) A banca recebeu um conjunto de 12 cartazes realizados a partir de imagens publicadas nos jornais cariocas e são associadas a um verso de Paul Celan - "De-pé-para-ninguém-e-nada". Ao término da exposição, será devolvida à esquina da Maré, integrando à favela os vestígios das experiências vividas na calçada em frente ao H.O.
História da Civilização Brasileira
(Para Jorge Roberto Lima da Penha)
Leila Danziger
Livro e fotografia, 35 x 30 cm. [2016]
Leila
Leila Danziger é artista plástica e professora do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Sua produção é orientada pelas relações entre memória e esquecimento, palavra e imagem.